O Brasil, país mais afetado pelo novo coronavírus na América Latina, superou a marca das 1.000 mortes por COVID-19 nesta sexta-feira (10), informou o ministério da Saúde.
Os números mais recentes das autoridades sanitárias brasileiras registraram um total de 19.638 casos confirmados, com 1.056 mortes – uma a menos que o balanço anunciado mais cedo.
Com um total de mortos por coronavírus de mais de 100.000 no mundo, o Brasil ainda tem cifras relativamente pequenas em comparação aos números de mortos em outros países duramente afetados pela pandemia, como Itália (mais de 18.000), Estados Unidos (cerca de 17.000) e Espanha (cerca de 16.000).
Mas as autoridades sanitárias brasileiras se preparam para uma piora no cenário. Especialistas preveem que o pico da pandemia ocorrerá no final de abril.
Temem, sobretudo, o que pode acontecer quando o vírus se espalhar por áreas mais pobres, especialmente as favelas, densamente povoadas e historicamente carentes de infraestrutura sanitária básica.
Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro enfrenta uma enxurrada de críticas por ter comparado a COVID-19 com uma “gripezinha” e se referido à reação a ela como “histeria”.
O presidente tem entrado em confronto com prefeitos e governadores pelas decisões de manter fechados estabelecimentos comerciais e instituições de ensino e pedir para as pessoas ficarem em casa para conter a pandemia, o que ele alega que vai arruinar a economia.
Em seu último ato de desrespeito às recomendações de isolamento feitas por seu próprio governo, Bolsonaro voltou a caminhar pelas ruas de Brasília nesta sexta-feira e saudou simpatizantes.
– Presidente anti-isolamento isolado –
Apesar de tentar se manter próximo de seus correligionários, o presidente enfrenta um isolamento político crescente, ao ser ignorado por autoridades municipais e estaduais, que implementam medidas de distanciamento social para combater a disseminação da doença.
“Bolsonaro está isolado politicamente. Perde apoio em todos os segmentos sociais e tem hoje pouquíssimos aliados no Legislativo e no Judiciário”, explicou o analista político Sylvio Costa, fundador do site Congresso em Foco.
“Bolsonaro subestimou a pandemia”, declarou à AFP.
A desaprovação ao presidente aumentou durante a pandemia, segundo recentes pesquisas de opinião. É alvo de panelaços à noite, realizados por moradores confinados nas maiores cidades do país, que de suas janelas, clamam: “Fora, Bolsonaro!”
Enquanto isso, cresce a aprovação de seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que se mantém firme nas recomendações internacionais de seguir medidas estritas para conter o coronavírus, despertando críticas de seu chefe.
A aprovação da gestão de Mandetta da pandemia alcançou 76%, enquanto a de Bolsonaro chegou a 33%, segundo pesquisa Datafolha da sexta-feira passada.
– Ameaça aos indígenas –
O número de mortos na pandemia mais que dobrou no Brasil em uma semana. No sábado passado era de 432.
O estado de São Paulo, o mais atingido do país, com 44 milhões de habitantes, tinha 8.216 casos e 540 mortes, segundo o ministério da Saúde.
O Rio de Janeiro é o segundo estado mais afetado, com 2.464 casos e 147 mortes.
Mas especialistas alertam que o número real de casos provavelmente é muito maior, devido à limitação de testes disponíveis e ao grande acúmulo de amostras aguardando análise.
Além da ameaça das favelas, cresce o temor sobre o que a pandemia representará para as comunidades originárias.
Historicamente, os indígenas da floresta amazônica são duramente afetados por doenças que são lugar comum em outras sociedades, pois seu isolamento os protegeu de germes contra muitos dos quais o resto do mundo desenvolveu imunidade.
Mas esta experiência não é necessariamente uma vantagem e, em um sinal de preocupação, um adolescente de 15 anos da etnia Yanomami – um povo conhecido por seu isolamento e vulnerabilidade a doenças – faleceu na quinta-feira após ter contraído a COVID-19.
“É um temor muito grande que essa doença chegue, cause um surto nas comunidades (indígenas) e acabe ocorrendo um genocídio em massa”, alerta Katia Brasil, editora da agência de notícias Amazônia Real, especializada em temas relativos aos povos amazônicos.
“Essa doença é muito perigosa para nós”, reforça Dario Yawarioma, vice-presidente da Associação Hutukara Yanomami, em Roraima.
“Estamos muito preocupados, essa doença está se aproximando”, acrescenta.
FONTE: YAHOO